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O Homem Insaciável no Poder é um Perigo

A Patologia da Ambição — um estudo sobre o poder e a ruína humana

Homem sobre balança da justiça inclinada, com máscara sorridente ao fundo e título O HOMEM X PODER
Entre o juízo e a farsa: a imagem retrata a tensão entre a justiça e a dissimulação do poder autoritário.


Em todas as eras, a política atraiu homens que viam no poder não um serviço público, mas uma plataforma para a própria exaltação. A história não se repete por acaso: ela grita. Ela nos alerta que o poder, quando ocupado por almas insaciáveis, não apenas corrói instituições, mas também mutila a dignidade dos povos. O homem que não conhece seus próprios limites transforma a liderança em autoritarismo, e o desejo de servir em obsessão por dominar. Este artigo examina como a humanidade, em sua busca por ordem e progresso, pode ser capturada por narrativas falaciosas, sustentadas por aparatos tecnológicos e desinformação — com consequências sociais e históricas profundas.

O Vazio da Insatisfação

Naturalmente, a busca por conquistas é uma força motriz da existência humana. Contudo, quando o poder é obtido por aqueles cuja essência é a insatisfação crônica, eles se tornam um risco tremendo à sociedade. A história está repleta de figuras que, mesmo acumulando poder, permaneciam em insatisfação perpétua. Essa busca por domínio, muitas vezes, revela um vazio existencial, onde o poder preenche lacunas de frustração pessoal — massageando o ego e justificando meios condenáveis.

A Transformação em Ameaça

Para saciar esse desejo doentio de domínio, muitos utilizam as formas mais suspeitas e imorais. Ao alcançar o poder, tornam-se líderes perigosos, obcecados por controle. A história testemunhou ditadores como Mussolini e Hitler — verdadeiras personificações da insanidade política. Foi necessária uma guerra mundial para aniquilar tais fúrias destrutivas. Esses homens emergem em momentos de fragilidade social, apresentando-se como “protetores da pátria”, mas ocultando intenções autoritárias e excludentes.

O Caso Brasileiro de 2018

Esse fenômeno manifestou-se claramente nas eleições de 2018, no Brasil. Um cenário de democracia fragilizada, combinado à crise econômica, ao ódio e à polarização, criou o terreno perfeito para o surgimento de um movimento político recheado de discursos antidemocráticos e estratégias de manipulação. A campanha foi marcada pela disseminação massiva de fake news, utilizando-se de mecanismos digitais como o WhatsApp — fator que gerou debates mundiais sobre os impactos das plataformas nas democracias contemporâneas.

É importante notar que esses fatos foram objeto de investigação oficial. A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das Fake News (CPMI), instaurada em 2019, analisou justamente esse cenário. A atuação da Justiça Eleitoral, nesse contexto, foi complexa; embora o TSE tenha adotado medidas para conter abusos, o volume e a velocidade da desinformação impuseram desafios sem precedentes — o que gerou questionamentos sobre a efetividade da legislação vigente no ambiente digital.

Retrocesso e Risco Institucional

A vitória eleitoral de um presidente de viés ultradireitista consolidou um governo com forte presença militar e oligarca — superando, inclusive, a composição dos governos militares anteriores. Isso gerou inquietações quanto ao compromisso com valores democráticos. A impressão foi de regressão à lógica de 1964, em pleno 2019. O uso da tecnologia como instrumento de manipulação eleitoral levantou alertas sobre o futuro da democracia brasileira.


Sendo assim, a figura do homem insaciável no poder persiste como um espectro que ronda a democracia — adaptando-se aos tempos, às linguagens e às estratégias de dominação. Ele se nutre das crises sociais e do desencanto popular. Sua maior arma é o uso imoral da tecnologia para moldar consciências. Contra esse fenômeno, resta à sociedade não apenas resistir, mas compreender. Denunciar a insaciabilidade autoritária é reivindicar o direito de sonhar com uma nação mais justa, plural e vigilante — onde o poder seja sempre instrumento da vida, e não o contrário.

Referências

  • ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. Tradução de Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
  • BOBBIO, Norberto. Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos. Organização de Michelangelo Bovero. Tradução de Daniela Beccaccia Versiani. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
  • BRASIL. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das Fake News. Relatório Final. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, 2023. Disponível em: https://www.camara.leg.br. Acesso em: 22 jun. 2025.
  • ECO, Umberto. O fascismo eterno. Tradução de Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2018.
  • FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 1987.
  • LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as democracias morrem. Tradução de Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
  • TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Desinformação nas eleições 2018: ações do TSE. Brasília, DF: TSE, 2019. Disponível em: https://www.tse.jus.br. Acesso em: 22 jun. 2025.

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