Uma Ópera em Tarifas e Chantagens
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Sua Implacável Majestade Tataxação I — o soberano fiscal vestido de cifrões, cercado por decretos, gráficos inflacionários e súditos tarifados. |
Sua Implacável Majestade Tataxação I — o soberano fiscal vestido de cifrões, cercado por decretos, gráficos inflacionários e súditos tarifados.
Capítulo I – O Trono da Planilha
O Imperador não usa coroa, usa fórmula do Excel. Seu trono é uma cadeira ergonômica giratória, e sua corte é formada por lobistas, estrategistas e índices de performance (KPIs) em curva ascendente. Rege com mão firme — ou melhor, com índice de importação — e dispara decretos como tiros de tarifa sobre aço, soja ou patentes alheias.
No mundo desse monarca, a diplomacia é redundante. Afinal, tudo pode ser resolvido com uma taxa de importação, um embargo técnico ou uma “revisão de acordos”. “Comércio livre, desde que a liberdade seja devidamente homologada por meus algoritmos”, diz ele, sem mover o maxilar — o assessor de imprensa faz isso por ele.
Capítulo II – Os Súditos e a Fatura
Os súditos internos vivem sob o mito do protecionismo virtuoso, enquanto pagam:
Preços inflacionados por produtos "nacionalizados" via tributo.
Menor acesso a inovação global — bem-vindo ao monopólio patriótico.
A ilusão de estar sendo protegido, quando na verdade é apenas tarifado para manter uma planilha feliz e um exército de assessores com bônus polpudos.
Do lado de fora, os súditos externos não têm vida melhor:
Exportadores sofrem por não serem suficientemente “alinhados”.
Economias emergentes são punidas pela ousadia de terem identidade.
E o comércio se transforma num duelo de sanções — em nome da liberdade de mercado, claro.
Capítulo III – A Geopolítica do Cowboy e do Peão
Aqui entram os patriotários do Capitólio e da Praça dos Três Poderes. Cada qual em seu idioma, mas unidos na adoração ao cowboy texano da extrema-direita.
Nos EUA, desfilam com bandeiras e rifles, dizendo que globalismo é ameaça, mas tarifas são salvação.
No Brasil, marcham com slogans e megafones, repetindo em português as cartilhas do conservadorismo made in Washington.
Ambos são defensores ferrenhos da soberania... desde que seja terceirizada ao lobby do Império das Taxações.
Capítulo IV – Os Patriotários dos Polos
Do Ártico ao Equador, temos os defensores do sonho tarifado:
No Polo Norte, o patriotário veste camuflagem e fala em nome do livre mercado — mas não questiona quando seu governo decide pagar mais caro por tudo.
No Polo Sul, sob o calor dos memes ideológicos, o patriotário tropical defende o agronegócio enquanto vê o preço da ração subir por causa de sanções “estratégicas”.
Ambos acreditam estar no lado certo. Mas não percebem que estão pagando — com juros e correção geopolítica.
Capítulo V – A Barganha do Café e da Democracia
E então chega o momento da trama internacional.
O Imperador das Taxações, vigilante do mundo livre, decide que o país do café está perigosamente democrático. E como todo monarca que se preze, resolve intervir — não com tanques, mas com tarifas. A desculpa? “Acordos comerciais em risco.” A motivação real? Livrar seu aliado tropical de um processo judicial que ameaça desalinhar a simetria ideológica do eixo cowboy-caserna.
“Seria uma pena se o café deixasse de ser prioridade comercial…” — murmura o Imperador, enquanto sorve o líquido amargo da pressão velada.
O país tropical, sem saber se responde com soberania ou subserviência, sua frio diante do monitor onde as cotações despencam. A justiça vira moeda de troca, e a democracia vira refém de uma xícara tarifada.
Epílogo – O Teatro Tarifário
No Império das Taxações, não há liberdade — há apenas preço.
O mundo canta em dissonância, mas os patriotários afinam sua voz ao som do dólar. A democracia tropeça, os cidadãos pagam mais por menos, e os líderes continuam batendo palmas para o monarca que confunde política com planilha.
Porque no final, até a sátira vem com imposto.
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